Quando entrares no aconchego deste rancho, pendure no cabide de tua humildade, todas as tuas mágoas e preconceitos. E se mesmo assim tiver ainda algum orgulho, que este seja o de ser gaúcho!!



quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Origens do Chimarrão

Mate amargo (sem açúcar) que se toma numa cuia de porongo por uma bomba de metal. Atribuem-se ao chimarrão propriedades desintoxicantes, particularmente eficazes numa alimentação rica em carnes.
A tradição do chimarrão é antiga. Soldados espanhóis aportaram em Cuba, foram ao México "capturar" os conhecimentos das civilizações Maia e Azteca, e em 1536 chegaram à foz do Rio Paraguay. No local, impressionados com a fertilidade da terra às margens do rio, fundaram a primeira cidade da América Latina, Assunción del Paraguay.
Os desbravadores, nômades por natureza, com saudades de casa e longe de suas mulheres, estavam acostumados a grandes "borracheras" - porres memoráveis que muitas vezes duravam a noite toda. No dia seguinte, acordavam com uma ressaca proporcional. Os soldados observaram que tomando o estranho chá de ervas utilizado pelos índios Guarany, o dia seguinte ficava bem melhor e a ressaca sumia por completo. Assim, o chimarrão começou a ser transportado pelo Rio Grande na garupa dos soldados espanhóis.

As margens do Rio Paraguay guardavam uma floresta de taquaras, que eram cortadas pelos soldados na forma de copo. A bomba de chimarrão que se conhece hoje também era feita com um pequeno cano dessas taquaras, com alguns furos na parte inferior e aberta em cima.

O comerciante Rômulo Antônio, dono da Casa do Chimarrão, em Passo Fundo, há mais de 20 anos, explica que os paraguaios tomam chimarrão em qualquer tipo de cuia. "Até em copo de geléia", diz. São os únicos que também têm por tradição tomar o chimarrão frio... O "tererê" paraguaio pode ser tomado com gelo e limão, ou utilizando suco de laranja e limonada no lugar da água.
Antônio explica outras diferenças. Na Argentina e no Uruguai a erva é triturada, ao contrário do Brasil, onde é socada. Nos países do Prata, a erva é mais forte, amarga, recomendada para quem sofre de problemas no fígado.

Lucia Porto
"Cuia de cristal ameaça a tradição"
jornal Zero Hora

domingo, 6 de fevereiro de 2011

O CAMINHO DAS TROPAS

Sul refaz a trilha dos tropeiros

Cavaleiros desbravaram a região ao buscar rebanhos do Prata no século 18. Fundaram cidades em seu histórico percurso, reconstituído nesta reportagem de Zero Hora, do Pioneiro e do Diário Catarinense
CARLOS WAGNER
Zero Hora/Mostardas

            O pampa mal dispunha de um nome. A povoação de colonos no território gaúcho tinha começado poucas décadas antes, precisamente em 1684, a partir de uma comunidade fundada no litoral catarinense. A vastidão verde ao sul do Rio Mampituba recém se integrava ao Brasil. Em meio à adversidade, um personagem histórico despontou no início do século 18 e ajudou a converter essa terra hostil em Rio Grande do Sul: o tropeiro. Para carregar cavalos e mulas do Prata até São Paulo e Minas Gerais, ele desafiou o clima traiçoeiro e a precariedade da região. Cunhou uma trilha, o chamado Caminho das Tropas, deixando como rastro a fundação de cidades. Quase três séculos depois, iniciativas tímidas mas esperançosas tentam reconstituir o roteiro pioneiro e explorá-lo turisticamente.         Em Lages (SC), o Sindicato Rural e a prefeitura ambicionam transformar em rota turística, histórica e ecológica o conjunto de estradas utilizadas por tropeiros. Projetos como esse valorizam uma fatia da História hoje guardada por escassos herdeiros, como Antônio Feliciano Barbosa, 75 anos, o Dodó, de Mostardas, no litoral sul gaúcho. Herdeiro: o tropeiro aposentado Antônio Barbosa, o Dodó         O município de Dodó foi erguido em 1742 como Guarda de Mostardas. Nasceu para dar o apoio logístico aos cavaleiros. Devido à geografia da localidade, estendida sobre a areia, entre a lagoa e o mar, a população ficou até há pouco isolada. Isso ajudou a preservar o culto ao épico personagem.         O ofício foi ensinado a Dodó nas primeiras décadas deste século. Primogênito do tropeiro e domador Vicente Barbosa, Dodó foi entregue ao fazendeiro Juca Terra para ser “um homem de serventia”. Ao dedicar-se às lidas campeiras, como os antigos tropeiros, vivia quase 24 horas por dia no lombo do cavalo e seguidamente dormia ao relento. Ainda resistiu até os anos 70 conduzindo tropas pelo interior de Mostardas e domando cavalos. Fonte: Jornal Zero Hora do dia 11/04/99